quarta-feira, 29 de junho de 2011

Os diferentes tipos de intervenção, empregadas pelos professores, na correção de uma redação


A correção indicativa: ocorre na maioria esmagadora dos casos pesquisados. Todos os professores fazem uso dessa estratégia, com maior ou menor freqüência. Nesse tipo, as correções ocorrem tanto na margem do texto do aluno (conforme Serafini), como no próprio corpo da redação (como encontrei nos textos analisados). São estratégias indicativas no corpo do texto:

o professor circunda (ou sublinha) a palavra em que ocorre o problema;

o professor circunda (ou sublinha) a seqüência de letras onde se localiza o problema;

o professor circunda (ou sublinha) a forma problemática;

o professor traça um "X" no local de ocorrência do problema;

o professor traça sinais acompanhados de expressões breves, na seqüência lingüística próxima à ocorrência do problema .

São estratégias indicativas na margem do texto:

o professor traça um "X" na direção da linha onde ocorre o problema;

o professor traça um asterisco, na direção da linha onde ocorre o problema;

o professor traça linha(s) vertical (is) paralela(s), chave(s) ou colchete(s), na direção do trecho onde ocorre o problema.

Agora é possível dizer em que consiste a correção indicativa: é simplesmente apontar, por meio de alguma sinalização (verbal ou não, na margem e/ou corpo do texto), o problema de produção detectado. Por uma questão de rigor metodológico, eu não diria (conforme disse Serafini) que nesse tipo de correção o professor "altera muito pouco", simplesmente porque ele "não altera nada", somente indica o local das alterações a serem feitas pelo aluno.

Esse é o tipo de correção mais largamente empregado pelos professores-sujeitos, seja como único recurso de correção, seja como reforço às demais formas interventivas.

A correção resolutiva: segundo Serafini (1989:113), consiste em reescrever todos os erros, reescrevendo palavras, frases e períodos inteiros. Nela, o professor realiza uma delicada operação que requer tempo e empenho, isto é, procura separar tudo o que no texto é aceitável e interpretar as intenções do aluno sobre trechos que exigem uma correção; reescreve depois tais partes fornecendo um texto correto. Neste caso, o erro é eliminado pela solução que reflete a opinião do professor.

Encontrei muito pouco desse método de abordagem no conjunto de redações analisadas. E assim como pude verificar nas correções indicativas, nas de cunho resolutivo há uma variação na forma de intervenção que vale a pena ser mencionada. De um modo geral, elas se concentram mais no corpo do texto do que na margem ou "pós-texto".

Estratégias resolutivas no corpo do texto:

Estratégia de adição: o professor acrescenta forma(s) no espaço interlinear superior à linha em que ocorre o problema.

Estratégia de substituição: o professor reescreve a forma substitutiva no espaço linear superior à linha em que ocorre o problema.

Estratégia de deslocamento: o professor reescreve, em outro lugar do texto, a forma problemática (além de indicar o item a ser deslocado).

Estratégia de supressão: o professor risca a forma de supressão.

Estratégias resolutivas na margem do texto:

O professor escreve a forma alternativa na direção da linha em que ocorre o problema.

Estratégias resolutivas no "pós-texto":

O professor escreve, no "pós-texto", a forma alternativa à forma problemática.

Como se pode observar, as resolutivas concentram-se no corpo do texto, sendo pouco freqüentes as resoluções nas margens e menos ainda no "pós-texto". Além disso, vale a pena frisar que, na maior parte dos casos de correção resolutiva, há igualmente indicações, a título de reforço. No último caso citado ocorre apenas um deslocamento – em vez de fazer a operação in loco,o professor opta por fazê-la no "pós-texto" do aluno.

A análise nos permite dizer que, agindo dessa maneira, o professor nada mais faz do que meramente apontar para o aluno os locais onde ele deve operar no texto, seja substituindo, seja retirando, seja acrescentando ou deslocando formas.

Estou constantemente chamando a atenção dos leitores para o fato de existirem meios e meios de correção de redações dos alunos na escola, frisando sempre que é um trabalho árduo, desde que feito com seriedade e compromisso com o futuro daquele ser humano em relação ao uso da língua escrita.. Pretendo encerrar minhas análises sobre os tipos de correções propostos, para passar às reflexões sobre a relação do pesquisador analista no diálogo correção/revisão, trabalho que realizarei em outro número desse mesmo periódico.

A correção classificatória:

Tal correção consiste na identificação não ambígua dos erros através de uma classificação. Em alguns desses casos, o próprio professor sugere as modificações, mas é mais comum que ele proponha ao aluno que corrija sozinho o seu erro (...) Frente ao texto:

"Ainda que eu ia a praia todos os verões...".

o professor sublinha a palavra ia (como no caso da correção indicativa) e escreve ao lado a palavra modo.O termo utilizado deve referir-se a uma classificação de erros que seja do conhecimento do aluno (obviamente, neste caso, o modo do verbo é a fonte do erro). (Serafini, 1939:114)

Poucos dos professores analisados adotaram a correção classificatória (preferem a resolutiva). Mas os que o fazem utilizaram um conjunto de símbolos (letras ou abreviações), escritos em geral à margem do texto, para classificar o tipo de problema encontrado. É lógico que o comportamento docente que precede o uso dessa estratégia é previamente combinado com os alunos, que conhecem tais símbolos, os quais variam de professor para professor. Abaixo, farei um quadro demonstrando os símbolos encontrados nas redações analisadas.

Vale a pena ressaltar agora que, como ocorre nos casos de resolutiva, nos de correção classificatória, a indicativa também marca presença, exercendo uma função de reforço expressivo altamente significativa no processo interlocutivo professor/aluno.

O trabalho de interpretação dos símbolos foi difícil e tive que recorrer ao auxílio dos professores usuários. Vou listar apenas alguns dos símbolos encontrados nos textos analisados, o que não quer dizer que os professores consultados não usassem outros, naquela ocasião.

SÍMBOLO

SIGNIFICADO

N.º DE PROFESSORES

A

Acentuação

8

Amb.

Ambigüidade

1

Coe.

Coesão

1

Coer.

Coerência

1

?

Confuso

6

CP/Col.Pron.

Colocação Pronominal

1

CN

Concordância nominal

1

C

Concordância

3

Fica evidente que, nesse trabalho do conjunto de símbolos, houve algumas dificuldades. Algumas classificações me pareceram muito claras, outras não, o que me permite discordar de Serafini quando diz que a classificatória "consiste numa identificação não-ambígua dos erros".

A correção textual-interativa: é o quarto e último tipo de correção encontrado nas redações analisadas. Trata-se de comentários mais longos do que os que se fazem na margem, razão pela qual são geralmente escritos em seqüência ao texto do aluno (no espaço que aqui chamei de "pós-texto"). Tais comentários são como "bilhetes" que, muitas vezes, extensos demais para o tipo redacional, estruturação e temática, mais parecem verdadeiras cartas.

Eles têm duas funções básicas, conforme pude perceber: falar acerca da tarefa de revisão pelo aluno (ou, mais especificamente, sobre os problemas do texto), ou falar, metadiscursivamente, acerca da própria tarefa de correção pelo professor.

Os "bilhetes" se explicam, pois em face da impossibilidade prática de se abordarem certos aspectos relacionados ao trabalho interventivo escrito por meio dos demais tipos de correção apontados. Se resolver ou indicar no corpo, assim como indicar ou classificar na margem não parecem satisfatórios, o professor recorre a essa maneira alternativa de correção, relativamente aos tipos apontados por Serafini. Utiliza, daí, aquele espaço em branco que sobra abaixo da redação na folha de papel, que não foi preenchido pela escrita do aluno.

O que percebi nitidamente nessa estratégia, obviamente em relação aos textos analisados é que, quando falam da revisão, os professores tematizam ora o comportamento verbal do aluno, ora seu comportamento não-verbal. Percebe-se, também que, quando o professor não está interessado em falar dos problemas do texto em si, mas, sim, de outros aspectos relacionados à tarefa de revisão, é por depois motivos que o faz: ou para elogiar o que foi feito pelo aluno (aprovando como foi feito o que o que foi feito), ou para cobrar o que não foi feito. Um exemplo:

Maria Laura, faça as correções com calma, utilizando o dicionário, se for preciso. Sua história está bem estruturada, mas é preciso cuidar da pontuação.

SN

Roberta, você entendeu bem a proposta e criou fatos para ligar as duas histórias. Refaça, com cuidado, as correções. Um beijo e um queijo,

N

Vale a pena ressaltar que o "bilhete" escrito pela professora para Maria Laura, teve resposta, logo abaixo:

"Vou tentar melhorar", escreve a menina e a professora ainda continua o processo escrevendo:

"Melhorou. Corrija o que falta. Gosto de ver a sua dedicação ao estudo de Português". SN

Os "bilhetes" de SN não fazem referência apenas à estruturação da narrativa de M. Laura, mas também e, sobretudo, ao seu empenho no trabalho de produção e revisão de texto. Pela resposta que esta dá em seqüência ao texto da professora, percebe-se que este é o aspecto da correção que mais lhe toca, já que retomado em sua fala e reflete a troca de turnos que ocorre na interlocução aluno/produtor/professor/aluno-revisor.

Os "bilhetes", na realidade, tentam ir além das formas corriqueiras e tradicionais de intervenção, para falar dos problemas do texto. A correção textual-interativa é, pois, a forma alternativa encontrada pelo professor para dar conta de apontar, classificar ou até mesmo resolver aqueles problemas da redação do aluno que, por alguma razão, ele percebe que não basta via corpo, margem, ou símbolo.

Após essa descrição geral das diversas formas de intervenção escrita a distância (em ausência, portanto) do professor no texto do aluno, na próxima série de artigos, procederei ao relato do exame das reescritas (revisões) elaboradas, as quais também analisei, tentando seqüenciar meu trabalho. Quando assim procedi, queria saber qual a natureza das alterações realizadas pelos alunos em suas redações a propósito de correções resolutivas, indicativas, classificatórias ou textuais-interativas.

Por Maria Cristina Ramos,

Drª em Análise do Discusso

pela Unesp/Araraquara/SP

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