sexta-feira, 23 de março de 2012

Resolução da Atividade para casa 01


Leia o texto abaixo e responda às questões propostas.

João Ubaldo Ribeiro, o imortal, me confessou certa feita que havia repetido uma palavra duas vezes ao longo de sua volumosa obra, Viva o povo brasileiro, e isso o incomodara imensamente. A confissão aconteceu por causa de uma apresentação de A Casa dos Budas Ditosos em que a memória me falhou e eu mandei um segundo “ensandecida” em vez de alternar com “enlouquecida”. Foi uma pequena aula de português das tantas que tive por osmose com o Ubaldo, graças à nossa aproximação através do teatro. Não se deve repetir palavras impunemente.

O começo de nossa amizade foi muito difícil para mim. Somos comparsas de e-mail, e cada vez que eu tinha de escrever para o venerado João minhas pernas bambeavam de insegurança gramática. Um singelo: “Caro Ubaldo, vamos jantar?” me exigia algumas horas de concentração para pôr a vírgula no lugar adequado. Aprendi imensamente com a impagável correspondência com o mestre e devo, e muito, a Ubaldo esta posição de colunista aqui em VEJA RIO. Um ano e pouco atrás, trocamos uma série de mensagens mais pessoais e, pela primeira vez, escrevi para o poeta de maneira solta. Ele, que é atento aos detalhes, percebeu a melhora e me fez um dos elogios mais valorosos que já recebi na vida.

Mas a evolução de um português medíocre como o meu não é garantia de coisa nenhuma. Relendo a crônica “Gula”, da edição de 14 de outubro, dei de cara com a repetição maciça da palavra “doce” e de outras que agora não lembro. É verdade que as últimas semanas têm sido tumultuadas aqui em casa, mas isso não justifica a cegueira. Sem falar na confusão enervante de “quês”... Minha mãe me alertou para outro vício: o uso exagerado do gerúndio. Esse eu ainda controlo. Minha imunidade ao gerúndio é mais alta do que a vulnerabilidade para a infestação de “quês”.

É o mal dos tempos. Fiz uma palestra outro dia na PUC sobre escolhas profissionais e a conversa recaiu sobre a questão da exigência do diploma de jornalista para exercer a profissão. É claro que eu gostaria que o cirurgião prestes a me abrir um talho na barriga fosse formado em medicina e especializado em fígado, intestino ou algo que o valha. Mas um economista pode ser de grande utilidade para um jornal, assim como um biólogo exerce respeito na seção de ciências. Uma professora do curso de comunicação se pronunciou no debate dizendo que a maior dificuldade, comum a todos os alunos, era o pífio desempenho na língua portuguesa. Por ela, as faculdades deveriam incluir cursos obrigatórios de letras para toda e qualquer profissão, já que o nível do ensino da língua de Camões no 2º grau era baixíssimo. Baseada na minha experiência, estou com ela e não abro.

João Ubaldo sonhou em fazer filosofia, mas o pai severo o encaminhou para o direito. Ubaldo é formado em ciência política. Poderia estar na ONU, não sei, ou em qualquer grande escritório de advocacia, mas preferiu cuidar da flor do Lácio. Seu último livro, O Albatroz Azul, acaba de chegar às livrarias. Se você aguentou estes pobres parágrafos confessionais de uma atriz carioca até aqui, deixo um brinde na saída: a abertura d'O Albatroz Azul, para você perceber o que é realmente escrever. O resto é silêncio.

“Sentado na quina da rampa do Largo da Quitanda, as mãos espalmadas nos joelhos, as abas do chapéu lhe rebuçando o rosto pregueado, Tertuliano Jaburu ouviu o primeiro canto de galo e mirou o céu sem alterar a expressão. Ignora-se o que, nessa calmaria antes do nascer do sol, pensam os grandes velhos como ele e ninguém lhe perguntaria nada, porque, mesmo que ele se dispusesse a responder, não entenderiam plenamente as respostas e dúvidas mais fundas sobreviriam de imediato, pois é sempre assim, quando se tenta conhecer o que o tempo ainda não autoriza.”

* A expressão “Última flor do Lácio, inculta e bela” é o primeiro verso de um famoso poema de Olavo Bilac, poeta brasileiro que viveu de 1865 a 1918. Essa flor é a língua portuguesa, considerada a última das filhas do latim.

(Fernanda Torres, in Veja Rio, 28 de out. de 2009)


AULAS DE ACOMPANHAMENTO DO ENEM 2012

ATIVIDADE DE CASA 01 – INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Prof. Elder Melo de Oliveira


1. Na introdução do 2º parágrafo, a autora representa muitos brasileiros que, do mesmo modo que ela:

A) não tiveram a oportunidade de terminar o ensino médio.

B) sentem-se intimidados ao se comunicar com alguém que, sabidamente, domina o idioma de Camões.

C) não sentem dificuldade em se comunicar em português visto que este é o idioma oficial do país.

D) rejeitam a língua portuguesa, por ser um idioma de difícil domínio.

E) admiram João Ubaldo Ribeiro por ele ser, além de escritor e jornalista, eminente advogado.

2. Em “Mas a evolução de um português medíocre como o meu não é garantia de coisa nenhuma.”, a autora demonstra:

A) arrogância. B) comiseração.

C) prepotência. D) autopiedade.

E) despretensão.

3. Com a oração: “É o mal dos tempos”, a autora se refere:

A) à profusão de verbos no gerúndio que infestam a comunicação escrita.

B) à falta de exigência do diploma no exercício de algumas profissões.

C) à dificuldade dos jovens em escolher a carreira mais adequada às suas aptidões.

D) à dificuldade apresentada por grande parte dos brasileiros para se expressar com correção de linguagem.

E) ao fato de alguns profissionais ousarem transitar por outras carreiras que não aquelas para as quais têm formação.

4. Assinale a afirmação que tem base no texto.

A) Embora seja colunista de uma revista de grande circulação, a autora tem consciência de suas limitações com relação à língua portuguesa.

B) A autora considera abominável a queda da exigência do diploma de jornalista para o exercício da profissão.

C) A falta de profissionais competentes no ensino médio acaba por prejudicar o rendimento dos alunos em estudos subsequentes.

D) Apesar de não ter recebido formação acadêmica de qualidade, após a aproximação com João Ubaldo, a autora passou a redigir com mais clareza.

E) A admiração da atriz pelo renomado escritor se deve ao fato de ele ajudá-la a recuperar o domínio da língua pátria.

5. Marque a opção em que o pronome grifado tem valor possessivo.

A) “Minha mãe me alertou para outro vício: o uso exagerado do gerúndio.”

B) “...e me fez um dos elogios mais valorosos que já recebi na vida.”

C) “...e ninguém lhe perguntaria nada, porque, mesmo que ele se dispusesse a responder...”

D) “...as abas do chapéu lhe rebuçando o rosto pregueado, Tertuliano Jaburu ouviu o primeiro canto de galo...”

E) “João Ubaldo Ribeiro, o imortal, me confessou certa feita que havia repetido uma palavra...”

6. Leia: “...me exigia algumas horas de concentração para pôr a vírgula no lugar adequado.” Assinale a frase INCORRETAMENTE pontuada.

A) As ruas estavam desertas, o silêncio era um fantasma pronto para atacar, o asfalto molhado brilhava como um imenso rio negro, o som de meus passos era o único sinal de vida naquele mar de agonia.

B) O retirante, nosso irmão nordestino, desce em busca de melhores condições de vida, mas nunca as encontra.

C) Do alto, avistávamos a casa da fazenda, os bois no pasto, as galinhas ciscando perto da casa, planícies verdes e uma montanha ao longe.

D) Ele realmente sabia, que tudo o que fora feito antes, teria sido em vão se não encontrasse água antes que suas forças o abandonassem.

E) Conhecemos muitas coisas por meio da experiência, do contato com elas, mas também conhecemos outras por meio da linguagem, pois esta nos coloca em contato com o mundo.

7. Assinale a opção em que a palavra grifada NÃO é pronome relativo.

A) “...e me fez um dos elogios mais valorosos que eu já recebi na vida.”

B) “...dei de cara com a repetição maciça da palavra 'doce' e de outras que agora não lembro.”

C) “É verdade que as últimas semanas têm sido tumultuadas aqui em casa...”

D) “Ignora-se o que, nessa calmaria antes do nascer do sol, pensam os grandes velhos como ele...”

E) “Foi uma pequena aula de português das tantas que tive por osmose com o Ubaldo...”

8. Assinale a opção em que a palavra é pronome demonstrativo.

A) “...e isso o incomodara imensamente.”

B) “Ignora-se o que, nessa calmaria antes do nascer do sol, pensam os grandes velhos...”

C) “...eu tinha de escrever para o venerado João...”

D) “...mas o pai severo o encaminhou para o direito.”

E) “...É o mal dos tempos.”

9. O trecho grifado em “...pois é sempre assim, quando se tenta conhecer o que o tempo ainda não autoriza” pode ser relacionado à expressão popular:

A) águas passadas não movem moinhos.

B) colocar a carroça na frente dos bois.

C) a morte não escolhe idade.

D) antes tarde do que nunca.

E) cortar o mal pela raiz.

10. Assinale a forma verbal simples que corresponde à composta grifada em “João Ubaldo Ribeiro, o imortal, me confessou certa feita que havia repetido uma palavra duas vezes ao longo de sua volumosa obra.”

A) repetiu. B) repetisse. C) repetiria. D) repetia. E) repetira.

11. No trecho “...o tempo ainda não autoriza.”, identifica-se uma figura de linguagem. Aponte-a.

A) Prosopopeia. B) Antítese. C) Hipérbole. D) Ironia. E) Silepse.

12. Marque a opção que completa correta e respectivamente os espaços no fragmento abaixo.

“Cheguei ___ conclusão de que estamos caminhando para ___ adoção de uma nova regra em relação ____ orações com o sujeito na terceira pessoa, tanto no singular quanto no plural. Assisti ____ muitos noticiários de televisão nos últimos dias, ouvi muitas entrevistas com todo tipo de gente e ____ conclusão dispensa maiores pesquisas.” (João Ubaldo Ribeiro)

A) a–a–às–à–a. B) a–à–as–a–a. C) à–a–às–a–a. D) à–a–as–à–à. E) à–à–as–a–à.

13. A palavra enlouquecida foi formada pelo processo de:

A) derivação prefixal.

B) derivação sufixal.

C) composição por justaposição.

D) composição por aglutinação.

E) derivação parassintética.

14. Assinale a opção INCORRETA com relação à concordância verbal.

A) Finalmente caiu, após a nova reforma ortográfica, os acentos de algumas palavras da língua portuguesa.

B) Prejudicam a redação o uso excessivo do gerúndio e a repetição de palavras.

C) Devia haver mais voluntários para trabalhar na alfabetização de adultos.

D) Conservantes, adoçantes e produtos industrializados, tudo tem sido combatido pelos naturalistas.

E) Analisaram-se os planos de reforma agrária.

15. Marque o trecho em que a oração grifada tem a mesma classificação da destacada abaixo.

“João Ubaldo Ribeiro, o imortal, me confessou certa feita que havia repetido uma palavra duas vezes ao longo de sua volumosa obra.”

A) “Ele, que é atento aos detalhes, percebeu a melhora...”

B) “...e me fez um dos elogios mais valorosos que já recebi na vida.”

C) “Uma professora do curso de comunicação se pronunciou no debate dizendo que a maior dificuldade, comum aos alunos, era o pífio desempenho na língua portuguesa.”

D) “É verdade, que as últimas semanas têm sido tumultuadas aqui em casa, mas isso não justifica a cegueira.”

E) “Por ela, as faculdades deveriam incluir cursos obrigatórios de letras para toda e qualquer profissão, já que o nível do ensino da língua de Camões no 2º grau era baixíssimo.”


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